Uma homenagem pessoal a Karl Marx
Camaradas
Certamente que cada um dos presentes, terá descoberto Marx à sua própria maneira: certamente em algum livro, talvez numa escola, porventura em algum organismo político ou mesmo sindical, quiçá no seu próprio local de trabalho.
Porém, no meu caso foi mesmo num cemitério (acreditem!) que eu descobri que o marxismo era superior ao existencialismo, e que a dialéctica do Marx valia duas vezes o ser do Sartre.
É verdade: por baixo da terra que eu pisava, em túmulos anónimos, senhores e camponeses, partilhavam o mesmo sono escatológico; mulheres mortas de parto, vitimas de antigas pestes padres missionários nos confins do mundo, ali juntavam os ossos na mais exacta das igualdades. Ali o ser e o nada lutavam entre si; e o resultado era a superação dialéctica dos contrários, o princípio fundamental da filosofia, a luz da matéria contra a treva do espírito.
A partir desse dia já nada podia convencer-me do contrário, virando então mais um jovem comunista. A razão que nós pensamos que temos tornou-se o motor do mundo; e quando aquilo que a faz mover é a gasolina hegeliana, esse movimento de pistões da tese e da antítese, somado ao poderoso acelerador da síntese, então até o sol da terra não passa de um lâmpada de sessenta voltes; e mesmo os tipos mais poderosos do mundo parecem simples faúlhas de isqueiro ou pálidas chamas de vela a apagarem-se à mínima corrente de ar.